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Brasil questiona EUA sobre deportações, mas tenta evitar atrito
Eles estavam algemados e relataram maus-tratos na viagem.

Brasil questiona EUA sobre deportações
O Ministério das Relações Exteriores convocou o encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília para prestar esclarecimentos sobre a situação dos 88 deportados brasileiros que chegaram no sábado a Belo Horizonte. Eles estavam algemados e relataram maus-tratos na viagem. O encarregado, Gabriel Escobar, que assumiu o cargo há apenas uma semana, reuniu-se ontem à tarde no Palácio do Itamaraty com a embaixadora Márcia Loureiro, secretária de Assuntos Consulares do ministério. A embaixada dos Estados Unidos descreveu o encontro como uma “reunião técnica”. A convocação do chefe da embaixada é uma ação diplomática que significa, na prática, que o país quer demonstrar insatisfação e cobrar a outra nação. O governo Lula já havia informado que pediria esclarecimentos aos americanos, que estão iniciando uma cruzada contra imigrantes ilegais com a volta de Donald Trump ao poder.
Embora o Itamaraty tenha dito que o uso de algemas nos brasileiros violava termos de um acordo de 2018 com os Estados Unidos, os dois países não possuem um tratado formal sobre deportação, informa Julia Duailibi, e sim notas entre os governos. Em um desses documentos, de 2021, o Brasil disse “que os deportados não serão submetidos ao uso de algemas e correntes, ressalvados os casos de extrema necessidade”. Os EUA se comprometeram a não usar algemas apenas quando chegassem ao Brasil, o que não foi cumprido.
E o governo Lula decidiu, em reunião com cinco ministérios, sustentar em caráter emergencial as ações da Operação Acolhida, na fronteira com a Venezuela e também em projetos de apoio a imigrantes em 14 estados. O governo foi surpreendido no domingo à noite ao saber que Trump cortou a verba da Organização Internacional para as Migrações (OIM) da ONU, 60% de seu financiamento.
Enquanto isso...Trump mencionou de novo o Brasil ao falar de países que “taxam demais”. O republicano ainda incluiu a nação em um grupo dos que “querem mal” os Estados Unidos, durante um discurso a apoiadores na Flórida. “A China é um grande criador de tarifas. Índia, Brasil, tantos, tantos países. Então, não vamos deixar isso acontecer mais, porque vamos colocar a América em primeiro lugar, sempre colocar a América em primeiro lugar”, afirmou.
Joel Pinheiro da Fonseca: “Os 88 brasileiros que chegaram na sexta-feira tinham sido apreendidos no governo Joe Biden e aguardavam a deportação. O que mudou, então? Primeiro: foram aviões militares. Segundo: o presidente agora era Trump. As reações escandalizadas de agora, portanto, se devem a nossos vieses. E caem como uma luva para Trump, que quer ser visto como duro com a imigração. Deixar progressistas indignados é um ganho para ele. Foi para isso que foi eleito."