Brasil
Após reuniões com Lula, Haddad anuncia corte de R$ 25,9 bilhões
À tarde, o presidente já havia destacado que responsabilidade fiscal é um compromisso de sua gestão,
“Comunicação bem-feita melhora tudo.” Foi assim que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou a redução nos ruídos sobre a economia vindos do governo, o que contribuiu para o dólar cair 1,71% e fechar o dia a R$ 5,568. Pela manhã, ele esteve no Palácio da Alvorada para um encontro com o presidente Lula fora da agenda oficial. Segundo fontes, a conversa serviu para alinhar o discurso. Foram três reuniões ao todo — outras duas no Planalto. À noite, Haddad disse que recebeu ordens de passar um pente fino nas despesas obrigatórias do governo para cortar R$ 25,9 bilhões e cumprir o arcabouço fiscal do país. “Primeira coisa que o presidente determinou é cumprir o arcabouço fiscal. Não se discute isso. São leis que regulam as finanças no Brasil e serão cumpridas. O arcabouço será preservado a todo custo”, afirmou o ministro. Âncora fiscal do país, o arcabouço atrela o crescimento das despesas ao crescimento das receitas, mantendo o controle dos gastos. A necessidade de cortes nas despesas obrigatórias, segundo o ministro, foi identificada após análise da equipe econômica nos últimos meses e vai incidir no Orçamento de 2025. Cortes podem ser antecipados a depender de um relatório a ser apresentado no dia 22 de julho.
À tarde, o presidente já havia destacado que responsabilidade fiscal é um compromisso de sua gestão, não mencionou dólar, juros, nem fez ataques ao Banco Central e seu chefe, Roberto Campos Neto. “Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que for necessário, a gente gasta com educação e com saúde o que for necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003 e a gente manterá ele à risca”, disse Lula no lançamento do Plano Safra, de R$ 400,5 bilhões, de olho no agronegócio. A declaração, que aliviou os ânimos no mercado, contrasta com as falas dos últimos dias.
Leonardo Sakamoto: “O que ajudou nessa queda do dólar foi o silêncio [de Lula] e essa hipocrisia generalizada [do mercado] de achar que as coisas mudaram, mas não mudaram. Simplesmente fez-se o silêncio”.
Maria Cristina Fernandes: “‘Esta é uma questão de poder real. A presidência tem poder formal, mas não o real.’ Foram cinco os economistas que, ao lado de Haddad, encontraram o presidente na noite de sexta-feira. Tentaram convencê-lo de que ele deveria se preservar mais na guerra com o mercado, baixar o tom e passar a bola para Haddad.”