Espiritualidade
Valor de um artista
Bendita criatividade! Bendita disposição de realizar o bem através da arte.
Qual o valor de um artista? Naturalmente, os músicos são muito apreciados porque, graças às suas composições e execuções primorosas, deliciamo-nos, enlevando a alma.
Os bailarinos nos encantam os olhos e a emoção. Os poetas arranjam fórmulas especiais para expressar aquilo que pode nos parecer simplesmente comum.
Sim, existe uma variedade enorme de artistas. Há os que fazem acrobacias, os que fazem rir, os que se equilibram em cordas bambas, os que se lançam no espaço, de um trapézio a outro.
Artistas e artistas. Mas, qual será o valor de um artista plástico, além de produzir uma obra de arte que conferirá beleza ou encanto a um local, exatamente como desejamos?
Pensando nisso, encontramos os dados de um brasileiro, Vik Muniz, residente nos Estados Unidos.
Ele usou a sua criatividade e de produtos descartados fez arte, ganhou prêmios, transformou vidas, modificou conceitos.
Tudo começou quando ele veio ao Brasil e conheceu, in loco, o aterro sanitário do Jardim Gramacho, no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Ele fotografou alguns dos que ali moravam e trabalhavam, na reciclagem do lixo. E, com o próprio lixo, criou imagens surpreendentes.
Um dos resultados foi ter um desses quadros vendido em leilão, em Londres.
Sebastião Santos, o Presidente da Associação, foi a Londres com o artista plástico. Chegou às lágrimas, quando a tela que o apresenta foi arrebatada por quase cem mil reais. Parte da renda reverteu em benefício da comunidade.
A parceria do artista com os trabalhadores do lixão, os depoimentos dos que ali residem, sem saneamento básico, em bolsões de miséria, resultaram em um documentário, intitulado Lixo extraordinário.
O filme ganhou dezoito prêmios internacionais. Em 2010, ganhou prêmios nos festivais de Sundance e Berlim. Em 2011, concorreu ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica de Hollywood, figurando entre os quinze documentários candidatos ao Oscar.
Acabou não ganhando a cobiçada estatueta, mas mudou a visão de mundo daqueles que se tornaram personagens dos quadros e do filme.
A câmera revela as montanhas de lixo, o ambiente desolador, em que seres humanos dividem a cena com urubus.
Quase cinco mil catadores vivem da reciclagem do lixo.
Mas, depois de sua experiência com a fotografia e as filmagens, sete desses catadores decidiram que não voltariam para o lixão.
Refizeram suas vidas, com outros propósitos.
E o filme, nessa coprodução Brasil e Reino Unido, serviu para que as autoridades voltassem os olhos para um local esquecido.
Em face disso, existem planos de desativação do lixão, com amparo aos atuais recicladores, em um grande projeto que deverá se estender até 2015.
Novos empregos, capacitação, amparo. Um novo panorama.
Nova visão de mundo. Tudo isso graças ao trabalho de um artista plástico. A arte servindo ao próximo.
Bendita criatividade! Bendita disposição de realizar o bem através da arte.