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Investigação da morte de Marielle teve troca de delegados e testemunha que mentiu...

Publicado dia 12/03/2019 às 22h16min
Apuração durou quase um ano e resultou na prisão de acusados de matar ex-vereadora.

Investigação da morte de Marielle teve troca de delegados e testemunha que mentiu; PF apurou atuação da Polícia Civil

Apuração durou quase um ano e resultou na prisão de acusados de matar ex-vereadora.

A investigação do caso Marielle Franco ganhou tanta complexidade que existe até um inquérito da Polícia Federal para apurar o trabalho da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Esse inquérito já mostrou que a testemunha, até então principal, mentiu.

Foi quase um ano de espera pelos resultados de uma apuração complexa e tumultuada. Nesta terça (12), os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz foram presos acusados matar a vereadora e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. O Ministério Público não descarta haver um mandante do crime.

 

 

 

Apenas uma semana depois do assassinato, a polícia mudou o comando da investigação: o delegado Giniton Lages passou a chefiar a Divisão de Homicídios. “É preciso garantir, para o sucesso dessa investigação, em razão da sua complexidade, absoluto sigilo”, disse Giniton na ocasião.

Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados quase um mês depois do início da intervenção federal na segurança do Rio. No dia seguinte ao crime, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu a federalização da investigação.

“Esse é um caso que precisa do apoio de todas as forças investigatórias e, certamente, a participação da Polícia Federal é importante nesse episódio”, disse ela.

O então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, colocou a Polícia Federal à disposição, mas o chefe de Polícia Civil do Rio e o Ministério Público estadual recusaram a oferta. “A presidência do inquérito policial será da Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro e, obviamente, o Ministério Público do Rio de Janeiro conduzirá essas investigações até o oferecimento da denúncia”, disse o procurador Eduardo Gussem.

O promotor do Ministério Público Estadual Homero Freitas contou com uma equipe de mais cinco promotores para apurar as mortes. “Tem que ter um pouco de paciência porque é uma investigação muito complexa”, afirmou.

Testemunha

 

Em maio, o jornal “O Globo” publicou o depoimento de uma testemunha, Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, PM que fez parte de uma milícia na Zona Oeste do Rio.

Três delegados da Polícia Federal --Hélio Kristian, Lorenzo Martins Pompilio e Felício Laterça, atual deputado federal do PSL-- levaram a testemunha para ser ouvida na Polícia Civil, acompanhados da advogada Camila Nogueira.

Segundo a reportagem, a testemunha afirmou que o vereador Marcelo Siciliano, do PHS, e o chefe da milícia, Orlando Oliveira de Araújo, Orlando Curicica, planejaram o assassinato. O motivo seria uma desavença entre o vereador e Marielle por causa da interferência dela em áreas da milícia.

Marcelo Siciliano e Orlando Oliveira de Araújo sempre negaram as acusações.

Orlando estava preso no complexo penitenciário de Bangu desde 2017, por porte ilegal de arma. Ouvido pela Polícia Civil em Bangu, Orlando afirmou ter sido ameaçado pelo delegado Giniton Lages.

Em junho de 2018, o miliciano foi transferido para a penitenciária de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Lá, ele pediu para ser novamente ouvido, desta vez, pelo Ministério Público Federal.

O Jornal Nacional teve acesso ao depoimento. Orlando afirmou então que Giniton Lages o pressionou a confessar o assassinato de Marielle a mando de Siciliano. No depoimento ao Ministério Público Federal, Orlando Oliveira de Araújo também acusou os investigadores de receberem propina.

 

 

Intervenção

 

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou então que a Polícia Federal apurasse a atuação da Polícia Civil do Rio na investigação. O Jornal Nacional teve acesso a trechos deste inquérito.

A Polícia Federal chama de “inusitada arquitetura a maneira como a testemunha Rodrigo Ferreira surgiu na investigação, com a intermediação do delegado federal Hélio Kristian de Almeida”. Hélio já foi investigado por atividades ilícitas, e agora a PF quer saber se ele teria influenciado Ferreirinha.

Em dezembro de 2018, Orlando confirmou à Polícia Federal outros trechos que já tinha dito ao MPF. Ele disse que o ex-titular da Homicídios Rivaldo Barbosa e ex-chefe da Polícia Civil e outros policiais receberam R$ 300 mil para não investigar a morte de um contraventor em 2016.

Disse ainda que os policiais cobraram R$ 20 mil para liberarem a mulher dele depois de encontrarem uma pistola na casa deles e que o dinheiro foi para equipe então chefiada pelo delegado Rivaldo Barbosa.

 

Recuo

 

Em outros depoimentos à Polícia Federal em fevereiro, Rodrigo Ferreira e a advogada dele, Camila Nogueira, voltaram atrás. Admitiram que a principal linha de investigação da Divisão de Homicídios estava baseada numa mentira contada pelo próprio Ferreirinha, até então a principal testemunha do caso.

A advogada disse que se sentiu usada durante todo esse tempo por Rodrigo Ferreira. Ela afirmou ter a certeza de que Rodrigo fez uma manobra para aparecer como testemunha e que, provavelmente, isso tenha ocorrido por ordem de outra pessoa, pois acredita que ele não detenha capacidade intelectual para tanto.

Rodrigo Ferreira admitiu que arquitetou tal história porque visualizou uma oportunidade de encaixar uma versão com aparência de verdade para, assim, prejudicar o miliciano Orlando Oliveira e se ver livre das ameaças que vinha sofrendo constantemente.

Como revelou o Jornal Nacional, a Polícia Federal também descobriu que, depois de incriminar Orlando Oliveira, Rodrigo Ferreira assumiu o controle de um complexo esportivo numa área antes dominada pelo miliciano.

 

Em fevereiro, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na cobertura do delegado Hélio Kristian e na casa do conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão. Os dois têm uma estreita ligação, de acordo com a investigação da PF.

Ex-deputado estadual e ex-vereador pelo MDB, Domingos Brazão atua em várias áreas da Zona Oeste do Rio dominadas por milícias, mesmo reduto eleitoral de Marcelo Siciliano. Brazão foi preso em 2017 pela Lava Jato, acusado de receber propina no Tribunal de Contas.

No início de 2019, a Polícia Civil e o Ministério Público também fizeram operações para prender milicianos.

As ações foram feitas com base em outros inquéritos. A Polícia Civil apurava também se outros deputados estaduais que integram a cúpula do MDB do Rio teriam ligação com o crime. A motivação, neste caso, seria disputas políticas e negociações de cargos públicos.

 

O que dizem os citados

 

O delegado Hélio Kristian declarou que não tem qualquer relação com o suposto entrave às investigações e que se limitou a ouvir o PM Rodrigo Ferreira e encaminhá-lo às autoridades competentes.

O delegado Giniton Lages não respondeu às acusações do miliciano Orlando Oliveira.

O delegado Rivaldo Barbosa não quis comentar. Ele disse estar com a consciência tranquila.

A Polícia Civil não se manifestou.

O Jornal Nacional não conseguiu contato com os outros citados na reportagem.

Investigação do crime contra Marielle â?? Foto: Igor Estrella/G1

Fonte: g1.globo

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