Política
Bolsonaro indiciado
A PF aguarda informações do governo americano para determinar se Bolsonaro e outros investigados utilizaram os certificados falsos de vacinação para entrar no país em 30 de dezembro de 2022.
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público, revela Daniela Lima. O caso se refere à falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 para ele, a filha Laura e outras pessoas, para que pudessem entrar nos Estados Unidos. Foram indiciadas outras 16 pessoas, incluindo o tenente-coronel Mauro Cid, que admitiu ter organizado a fraude e, em depoimento, afirmou que a ordem partiu de Bolsonaro. Segundo a PF, o então ajudante de ordens encaminhou os dados falsos ao ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, que os repassou a João Carlos de Sousa Brecha, secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ) e responsável por inserir as informações no sistema do SUS. Os certificados, relatou Cid, foram impressos no Palácio da Alvorada e entregues em mãos ao ex-presidente. Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro, classificou o indiciamento como “lamentável” e “absurdo” e disse não ter tido acesso ao inquérito, que vê como “perseguição política e tentativa de esvaziar o enorme capital político que só vem crescendo”. O inquérito da PF vai ser analisado pelo Ministério Público, a quem cabe transformar ou não o indiciamento em denúncia.
A PF aguarda informações do governo americano para determinar se Bolsonaro e outros investigados utilizaram os certificados falsos de vacinação para entrar no país em 30 de dezembro de 2022. Na época, os EUA exigiam a comprovação de vacinação. Em caso de resposta afirmativa, podem ser identificadas “novas condutas ilícitas”.
O relatório da PF indica que as adulterações dos documentos nos sistemas do Ministério da Saúde podem ter sido realizadas durante o planejamento da suposta tentativa de golpe de Estado para permitir que os integrantes tivessem os documentos necessários para entrar ou permanecer no exterior após o desfecho do 8 de janeiro.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes estipulou prazo de 15 dias para que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre o relatório da PF.
O indiciamento não foi a única má notícia para Mauro Cid. O comandante do Exército, general Tomás Paiva, vetou a promoção por tempo de serviço do tenente-coronel ao posto de coronel, que poderia acontecer em abril. Pelas regras das Forças Armadas, ele só ficaria impedido de receber a promoção caso se tornasse réu em processo, o que ainda não aconteceu. Porém, a avaliação na caserna é que a passagem de Cid a coronel em meio às investigações seria prejudicial à imagem do Exército.
Apesar de ter ficado preso por quatro meses, Cid recebeu de seu chefe nota máxima por seu desempenho profissional em 2023. À época, o Comando de Operações Terrestres era liderado pelo general Estevam Theophilo, um dos alvos da PF na investigação sobre a trama golpista. E o chefe direto de Cid era o general Alexandre Oliveira Cantanhede Lago.