Meio Ambiente
Conferência do clima começa sob a sombra de Trump
Trump anunciou que o ex-deputado Lee Zeldin, um republicano de Nova York, vai chefiar a Agência de Proteção Ambiental
Conferência do clima começa sob a sombra de Trump
Com o mundo à beira de um novo recorde de calor e à sombra da eleição de Donald Trump, que pode abandonar novamente o Acordo de Paris, como em seu primeiro mandato, começou ontem em Baku, no Azerbaijão, a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP29). “Estamos a caminho da ruína. E não se trata de problemas futuros. A mudança climática já está aqui. Precisamos muito mais de todos vocês”, conclamou em seu discurso de abertura o presidente da COP, Mukhtar Babayev, que é ministro da Ecologia do Azerbaijão e ex-diretor da estatal petrolífera do país. Sem os chefes de governo de Estados Unidos e China, o evento, que vai até o próximo dia 22, precisa superar as divergências para firmar um acordo ambicioso, principalmente sobre o repasse de valores dos Estados ricos aos em desenvolvimento afetados pelas mudanças climáticas. Para o secretário executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, Simon Stiell, o financiamento da luta climática não é “caridade, e sim do interesse de todos, incluindo as nações mais ricas e maiores”.
Um primeiro passo foi dado ontem. Negociadores internacionais aprovaram as regras para um mercado de créditos de carbono administrado pela ONU. Cada crédito equivale a uma tonelada de dióxido de carbono removida da atmosfera ou que tem sua emissão evitada. As novas regras dizem respeito principalmente aos países desenvolvidos e poluidores que compram créditos de nações que reduziram CO2 além do que haviam prometido. A proposta, no entanto, foi criticada por ativistas, que indicam falhas no texto em áreas como a proteção dos direitos humanos das comunidades afetadas pelos projetos.
Do outro lado do mundo, Trump anunciou que o ex-deputado Lee Zeldin, um republicano de Nova York, vai chefiar a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). Esse posto é central para os planos de Trump de desmantelar as regulamentações ambientais. Durante a campanha presidencial, ele prometeu “matar” e “cancelar” a EPA, assim como regras para combater o aquecimento global de restrição à poluição de escapamentos de veículos, de chaminés de centrais elétricas e poços de petróleo e gás. “Restauraremos o domínio energético dos EUA, revitalizaremos nossa indústria automobilística para trazer de volta os empregos americanos e tornaremos os EUA o líder global da IA”, afirmou Zeldin. Já o presidente eleito disse em nota que seu escolhido “garantiria decisões de desregulamentação justas e rápidas que serão promulgadas de forma a liberar o poder das empresas americanas, ao mesmo tempo que manteria os mais altos padrões ambientais, incluindo o ar e a água mais limpos do planeta”.
Um retrocesso ambiental nos EUA preocupa ainda mais frente à afirmação de que a meta climática de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até o final do século pode já ter sido ultrapassada. É o que sugere um estudo publicado na revista Nature Geoscience, indicando que o aumento das temperaturas em relação ao período pré-industrial já pode ter alcançado 1,5°C em 2023. Pesquisadores usaram amostras de camadas de gelo retiradas do interior das geleiras da Antártica que cobrem os últimos 2 mil anos para entender a relação entre o aumento de dióxido de carbono na atmosfera e a elevação da temperatura global.
Voltando ao gabinete de Trump, o presidente eleito anunciou que Thomas Homan, alto funcionário da imigração do primeiro governo do republicano, será o novo “czar da fronteira”. Ele já disse que batidas em locais de trabalho atrás de imigrantes em situação ilegal serão retomadas. Segundo Trump, “não há ninguém melhor em policiar e controlar nossas fronteiras” e Homan “ficará encarregado de todas as deportações de imigrantes ilegais de volta ao país de origem”.