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Educação

Uma reflexão sobre o ensino Público e Privado

Publicado dia 04/09/2023 às 06h00min
Quando se analisa educação, as dificuldades se sobrepõem

Alcançar patamares de uma educação pública de qualidade ainda é um desafio para muitos municípios brasileiros. Principalmente se levarmos em consideração que, aproximadamente, 89% destes estão na categoria de micro e pequeno porte, alcançando até 50.000 habitantes e que a responsabilidade do ensino, nos anos iniciais e primeiros anos do Ensino Fundamental, é de sua total responsabilidade. Dentre os diversos fatores que corroboram essa realidade, como infraestrutura, territórios com intensas desigualdades socioeconômicas e a formação dos profissionais da educação, soma-se o grande percentual dos municípios brasileiros que enfrentam dificuldades na gestão, na capacidade técnica de suas equipes e no financiamento.

Por outro lado, pensa-se que as escolas particulares não sofrem destas dificuldades por serem remuneradas de forma “substancial” pelo serviço prestado aos alunos ali matriculados. Infelizmente, o cenário não é bem esse.

Quando se analisa educação, as dificuldades se sobrepõem, independente do modelo ser público ou privado. As dificuldades não moram apenas na infraestrutura física das escolas, mas, principalmente, no elemento humano que está inserido nela.

Tem-se no Brasil a ideia de que os educadores são lutadores que precisa travar uma batalha incansável e quase invencível diariamente. De um lado, tem de cuidar das tarefas não realizadas do século 20 – e algumas do século 19, quando o comparamos com o desenvolvimento educacional dos países desenvolvidos. Do outro, deve abordar as novas demandas que o século 21 está a exigir e que não podem ser postergadas. O País precisa ainda fazer um grande esforço no desenvolvimento das competências cognitivas, levando-se em conta os baixos índices de aprendizagem escolar, especialmente nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. E, para seguir nessa direção, deve incorporar ao projeto pedagógico de suas escolas o desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais, ou, como também são conhecidas, as habilidades para a vida, tão demandadas atualmente – o trabalho colaborativo, a criatividade, o pensamento crítico, a flexibilidade, a perseverança e a responsabilização. Esses dois conjuntos de competências – as cognitivas e as socioemocionais – compõem aquilo que consideramos estratégico para o desenvolvimento de uma Educação Integral. A boa notícia para o “Hércules brasileiro” é que a ciência vem mostrando que o desenvolvimento das habilidades sócio emocionais tem enorme impacto na melhoria da aprendizagem escolar, no clima de paz nas escolas e também no desenvolvimento futuro de crianças e jovens em termos pessoais e profissionais.

As escolas, de alguma forma, já desenvolvem essas habilidades, mas isso se dá de forma não intencional no currículo escolar. Aqui pode-se notar uma pequena diferença em favor da escola privada. Este tipo de iniciativa é menos resistente à implantação neste ambiente do que no público. Elas precisam mudar para potencializá-las. A sala de aula tem uma disposição de carteiras que parece ter adormecido no ambiente do século 19: ele não estimula a colaboração, nem o trabalho em equipe, nem a criatividade, entre outras habilidades. Faça um exercício de memória e relembre como era a sala de aula no tempo de seus avós e como é o ambiente hoje, no tempo de seus filhos ou netos – Nada, ou quase nada mudou!!! Além disso, precisamos apoiar nossas escolas para que aproveitem todo o conhecimento produzido pela ciência nas últimas décadas.

Os anos 90 do século 20 ficaram conhecidos como a década do cérebro. Foi nele que avanços fantásticos apareceram, foram experimentados e, quase que instantaneamente, sumiram do mapa, dando lugar a novas evoluções ou criações. Apenas para citar um exemplo, durante mais de um século, a comunicação se baseou no telégrafo e, durante as décadas de 80 e 90 do século passado, apenas para ficarmos nestas duas, apareceu o fax e, pouquíssimo tempo depois, o e-mail como duas formas de comunicação que, praticamente selaram o desaparecimento de um dos principais produtos dos Correios: o telegrama. E estas evoluções tem impacto direto no desenvolvimento neurológico de nossas crianças e jovens.
As descobertas da neurociência podem ajudar na construção de um projeto pedagógico que promova a aprendizagem escolar. Podem também auxiliar na melhor compreensão de como tratar de situações complexas de aprendizagem associadas à dislexia, sem falar na importância do sono na fixação das informações e dos conhecimentos produzidos em sala de aula.

O mundo mudou, e precisamos ajudar a escola a acompanhar essas transformações. O desafio é imenso. Uma pessoa que se dedique a ler diariamente o New York Times durante uma semana terá obtido mais informações do que alguém que viveu no século 18 ao longo de toda a vida! A sala de aula, na maioria das escolas brasileiras, continua estruturada como no século 19. Precisamos auxiliar o próprio professor a chegar ao século 21, pois os alunos já estão nele. Não se trata apenas de adotar tecnologias como tablets ou smartphones, mas de promover mudanças no design do espaço, na formação do professor e na promoção de uma Educação Integral.
Porém, não devemos nos iludir achando que as tecnologias existentes já vêm “embutidas” em nossos filhos. Apesar do acesso fácil a elas, para a maioria dos alunos das escolas particulares, poucos sabem utilizá-las na sua plenitude mais ampla. e os alunos das escolas públicas, conhecem esta facilidades porém, não tem o acesso adequado a elas.
Recentes achados científicos dialogam diretamente com a sala de aula. É preciso estarmos atentos ao panorama do desafio que se descortina para o Brasil neste século. São vários os temas da agenda do século 20 que o País ainda precisa cumprir, como a implantação do regime de colaboração, a universalização do Ensino Médio e a solução para a equidade na oferta escolar, mas também a agenda necessária para chegar à Educação do século 2. É o caso, por exemplo, do que Mozart Neves Ramos, um estudioso de nossa época, sobre os temas de vanguarda da educação, chama de necessidade de reinvenção das universidades, tomando como referência dois importantes artigos publicados recentemente na revista The Economist. Um dos aspectos que enfatiza refere-se ao fato de que o Ensino Superior pouco mudou desde o tempo em que Aristóteles lecionava no liceu de Atenas, ou seja, os estudantes ainda se reúnem para ter aulas em um local fixo e em horário determinado. No entanto, três forças estão provocando mudanças: o aumento de custos, a demanda crescente por Ensino Superior e as novas tecnologias.

Ainda no campo do Ensino Superior, um estudo da Universidade de Oxford (Inglaterra) que mostra que 47% das ocupações profissionais estão em risco de serem automatizadas nas próximas décadas. Isso exigirá das pessoas formação contínua ao longo da vida, o que pressupõe mais do que acúmulo de conhecimento – exige o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender e de dispor de habilidades para viver, como a abertura ao novo, a flexibilidade e a criatividade, entre outras.
Nesse novo contexto mundial, tendo uma visão ampliada até os anos de 2030, se exigirá que os alunos sejam preparados para usar tecnologias que ainda não foram criadas, para resolver problemas que ainda não existem. Como disse Seymour Papert, o papa da inteligência artificial: “Nos dias atuais, não basta que os alunos aprendam bem o que a escola lhes ensina, e que consigam aplicar esse aprendizado no mundo do trabalho. Hoje, espera-se que consigam fazer coisas na vida que nunca lhes foram ensinadas, seja na escola, seja fora dela”.

Hoje, no Brasil, infelizmente, existem mais razões para um jovem não querer ser professor do que para ser. São claras as razões: baixos salários, ausência de planos de carreira nas redes de ensino, baixa prioridade dos cursos de licenciatura nas universidades e condições de trabalho difíceis nas escolas. Assim, não é por acaso que a larga maioria dos jovens brasileiros não deseja seguir a carreira do magistério, algo tão importante para qualquer País que deseja ter um futuro sólido e promissor. Não tenho dúvida em afirmar que o maior desafio da Educação brasileira está na valorização da carreira do magistério. Para se ter uma ideia clara do problema, apenas 2% dos jovens brasileiros seguem a carreira do magistério!

Não é à toa, por exemplo, que o desempenho escolar dos nossos alunos no Ensino Médio está estagnado há mais de dez anos em um patamar muito baixo. Em matemática, 91% dos concluintes não aprenderam o que seria esperado ao término dessa última etapa da Educação Básica. E isso independe de a escola ser pública ou privada. Além disso, não podemos esquecer que 50% dos que começaram o 1º ano do Ensino Fundamental ficam “pelo caminho”, ou seja, abandonam a escola antes de concluir o Ensino Médio. Um dos fatores que mais contribuem para esse baixo desempenho escolar no Ensino Médio (nas séries finais do Ensino Fundamental se observa comportamento semelhante) é a escassez de bons professores e com formação adequada à disciplina que lecionam.

Em 2007, um trabalho realizado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), já apontava um déficit de 250 mil professores nas duas últimas etapas da Educação Básica, especialmente nas disciplinas matemática, física, química e biologia.
Mas, como sair deste problema que se instaurou em nossas escolas e está atingindo diretamente nossos alunos e professores?
A resposta não é simples, requer esforço conjunto e, principalmente, investimento na formação, capacitação e promoção da educação básica, seja ela municipal, estadual ou, até mesmo, privada.

Várias iniciativas estão sendo encampadas, mas que não são objeto deste trabalho, visto que o tema é extenso e muito rico de ser debatido. Porém, uma das principais ações que vem sendo desenvolvidas, passam, obrigatoriamente pela soma dos esforços dos setores público e privado, unidos por um bem comum: CONHECIMENTO.

por Prof. MSc. Marcelo Deschamps

REFERÊNCIAS:
ABRUCIO, Fernando. Cooperação intermunicipal: experiências de arranjos de desenvolvimento da educação no Brasil – Curitiba: Positivo, 2017.
DIAS, Sônia, DJRDJRAN, Tatiana Bello. Diálogos sobre a gestão municipal: passo a passo do Plano Municipal de Educação – São Paulo: Fundação Itaú Social, 2014.
MEC – RESOLUÇÃO N° 1, DE 23 DE JANEIRO DE 2012 – Regime de Colaboração mediante Arranjo de Desenvolvimento da Educação.
RAMOS, Mozart Neves. Educação brasileira: uma agenda inadiável – São Paulo: Fundação Santillana, 2015.

Fonte: Site A Cara da WEB via https://www.domsaber.com.br/

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