Economia
Dolar fecha em queda
Pela primeira vez desde o início das recentes intervenções do Banco Central no câmbio, o dólar fechou em queda.
Pela primeira vez desde o início das recentes intervenções do Banco Central no câmbio, o dólar fechou em queda, de 2,27%, a R$ 6,1237. Mas, para isso, a autoridade monetária precisou atuar duas vezes, já que a moeda americana tocou os R$ 6,30 mesmo após um primeiro leilão à vista de US$ 3 bilhões no início do dia. Em seguida, a autarquia injetou mais US$ 5 bilhões no mercado cambial. Foi a maior intervenção diária desde 1999, quando começou o regime de câmbio flutuante. A intervenção total no câmbio, em meio à desconfiança do mercado em relação ao pacote fiscal e à influência de fatores externos e sazonais, soma US$ 20,7 bilhões. E à noite, o BC anunciou que hoje fará um novo leilão à vista, de até US$ 3 bilhões, e dois de linha, com garantia de recompra, de até US$ 4 bilhões. Já o Ibovespa encerrou o dia com ganho de 0,34%, aos 121.187,91 pontos.
Diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo negou que um ataque especulativo do mercado financeiro seja a causa da disparada da moeda americana e afirmou que sua percepção sobre o tema tem sido bem aceita pelo presidente Lula e outros membros do governo, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias”, disse. Na quarta-feira, ao ser questionado sobre a disparada do dólar, Haddad não descartou a possibilidade de influência de movimentos especulativos, mas disse acreditar que as intervenções do BC e do Tesouro Nacional deveriam ajudar a acalmar os ânimos. Quanto à questão fiscal, Galípolo disse que, nas conversas com Lula e Haddad, eles reconhecem que há problemas que precisam ser enfrentados e que o controle das contas públicas é um esforço contínuo. Mas ressaltou que não existe “bala de prata”.
Na mesma entrevista, que além do Relatório Trimestral de Inflação marcou a transição na chefia do BC, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, reiterou que, no regime de câmbio flutuante, não há defesa de preço do dólar por parte da autarquia. “Mas há a percepção que, se o BC não atuar, pode haver uma disfuncionalidade de preços [no dólar]. Para isso que existem as reservas”, afirmou, destacando que o BC “tem muita reserva [internacional, acima de US$ 370 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário”. Ele também disse que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano, além das tradicionais retiradas de recursos por empresas.
Míriam Leitão: “Vimos na manhã desta quinta-feira uma página bonita do ponto de vista das instituições do Brasil, no caso o BC, que foi uma transição serena e respeitosa, e, ao mesmo tempo, os dois presidentes enviaram um recado político importante. Começando pela vitória institucional, a transmissão ao vivo de uma entrevista com o atual e o futuro presidente — Campos Neto convidou Galípolo para participar da coletiva. Essa passagem de bastão em harmonia é muito importante. A afirmação dos dois na coletiva de que o choque de juros foi uma decisão tomada já nesse processo de transição, com voz ativa de Galípolo, é um recado político importante. O que os dois juntos estão dizendo é que têm o mesmo entendimento de que o BC é órgão técnico mesmo num país conflagrado pela disputa política”.
E no seu Relatório Trimestral de Inflação, o BC estima que o IPCA de 2024 será de 4,9%, aumentando de 36% para 100% a probabilidade de a inflação oficial ultrapassar o teto da meta do ano, de 4,5%. Para 2025, a probabilidade de descumprimento da meta aumentou de 28% para 50%, e, para 2026, de 19% para 26%. Com base nas projeções da autarquia para a Selic e dólar nos próximos anos, a estimativa é que a inflação atinja seu pico no terceiro trimestre de 2025, a 5,1%, recuando a 4,5% no fim do ano que vem. Para 2026, a projeção é de um IPCA de 3,6%.