Ciência
Agroecologia como alternativa: Promovendo quintais produtivos no Brasil
No sul da Bahia, o projeto de Felipe Campelo e Silva destaca o papel dos quintais produtivos manejados de forma agroeconômica na promoção da soberania alimentar.
Agroecologia como alternativa
Felipe Otávio Campelo e Silva, pesquisador e defensor da agricultura sustentável, lidera uma iniciativa no sul da Bahia, Brasil, focada no potencial transformador dos quintais agroecológicos. O projeto visa caracterizar e aumentar o potencial produtivo desses espaços, ajudando as famílias a melhorar seus meios de subsistência enquanto restauram o meio ambiente.
Campelo e Silva é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Biossistemas da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Sua formação inclui mestrado em sociologia rural pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e graduação em engenharia agrícola pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Realizado em 18 lotes de assentamento nos municípios de Teixeira de Freitas e Prado, o projeto destaca a importância desses quintais como espaços biodiversos que contribuem significativamente para a soberania alimentar. Usando uma abordagem de manejo predominantemente agroecológica, as famílias cultivam uma variedade de plantas, incluindo frutas, ervas medicinais e vegetais, em lotes que variam de 0,54 a 3,1 hectares. Aproximadamente 94,4% desses quintais produtivos são manejados com práticas agroecológicas.
A pesquisa de Campelo e Silva mostra que esses quintais produtivos não servem apenas como fontes de renda, mas também melhoram a qualidade de vida das famílias participantes. A presença de 230 espécies de plantas indica um ecossistema próspero que fornece vários serviços ecossistêmicos essenciais para o bem-estar da comunidade e a restauração da biodiversidade. Ele acredita que entender as relações intrincadas entre esses espaços produtivos e os serviços ecossistêmicos é essencial para moldar políticas públicas eficazes. Ao abordar os desafios e potenciais identificados por meio desta pesquisa, o projeto visa contribuir para o desenvolvimento de estratégias de produção sociobiodiversas que beneficiem as fazendas familiares da região.
Atualmente morando em um assentamento rural em Teixeira de Freitas, Campelo e Silva faz parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Brasil desde 2000, acumulando mais de duas décadas de experiência na defesa da reforma agrária. Sua jornada começou na Amazônia e agora está centrada no sul da Bahia, onde coordena a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, afiliada ao MST no município de Prado, Bahia. Desde sua criação em 2013, a escola promove a agroecologia em várias frentes, incluindo alfabetização de jovens e adultos e treinamento técnico para assentados, indígenas e quilombolas (descendentes de comunidades afro-brasileiras formadas por pessoas escravizadas fugitivas), além de oferecer cursos especializados.
A escola, que ocupa aproximadamente 13 hectares, funciona como um laboratório a céu aberto com unidades de produção dedicadas ao cultivo de café e cacau em sistemas agroflorestais, pimenta-do-reino, galinhas caipiras e hortaliças e à produção de insumos. Localizada em uma área dominada pela monocultura de eucalipto e pastagem, a Escola Egídio Brunetto se coloca como um contraponto a esse modelo econômico, priorizando a restauração da Mata Atlântica nas áreas recuperadas.
Para Campelo e Silva, fortalecer a agroecologia dentro dos assentamentos é essencial para construir uma agricultura sustentável e inclusiva. Ele ressalta que todas as atividades da escola têm foco na produção de mudas nativas e na recuperação da Mata Atlântica.
O conhecimento e a experiência de Campelo e Silva foram ampliados pelo curso do ELTI “Sustentabilidade Ambiental e Produtiva em Propriedades Rurais”, oferecido em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e a UFSB. Ele conta que o curso proporcionou reflexões práticas e teóricas sobre restauração ambiental, apoiando o desenvolvimento de estratégias de recuperação ambiental e fomentando a troca de conhecimento entre instrutores e participantes.
O apoio do Programa de Liderança Ambiental do ELTI foi crucial para Campelo e Silva no desenvolvimento de seu trabalho de campo e análises de solo. Além disso, o curso permitiu sua participação no Congresso Brasileiro de Agroecologia, realizado no Rio de Janeiro, onde ele compartilhou suas descobertas de pesquisa. “Este programa é extremamente valioso”, ele diz, expressando gratidão pela oportunidade de misturar diferentes sistemas de conhecimento — da ciência aos insights dos agricultores — em um processo de aprendizado contínuo.