Opinião
Crenças e Self
Não podemos mudar o passado , mas podemos ressignificar algumas crenças
Crenças e Self
Por Cátia Garcez
O adagio popular “o mundo dá muitas voltas”parece ser redundante pois sabemos que o nosso planeta gira em torno do sol. Conclusão de quem acredita pertencer a um mundo apenas terrestre. Isso não é reflexo de falta de conhecimento geográfico mas à limitação evolutiva relacionada ao espírito/alma de cada ser humano: o mundo dar voltas é literal .
No entanto, o enunciado tem uma conotação metafórica potente, quando refere-se a forma cíclica com que os fatos e acontecimentos desenrolam-se no comportamento humano . Dizem os ditos populares “ quem com ferro ferre, com ferro será ferido”; “ Aqui se faz, aqui se paga”; “Deixa o martelo, que o prego chama”; e tantos outros que nos fazem acreditar na causa e efeito ou pelo menos que “uma hora o círculo se fecha”.
Mesmo parecendo que a vida entre nascer e morrer seja linear, suspeitamos que há apenas um intervalo de tempo entre morrer e nascer, respaldado na nossa falta de informação do que existe depois da morte . Para os que acreditam na eternidade a vida tem um formato cíclico e continuo; para os que não acreditam nisso, apenas morremos e ponto.
Podemos observar que o fato de acreditarmos ou não em algo, influencia diretamente no nosso comportamento,em como entendemos o mundo e em como nos relacionamos com as pessoas, seja no mundo presencial ou virtual através das redes sociais .
Quantos desentendimentos são causados pela diversidade de crenças gerando a intolerância e quantos guetos são firmados pelas afinidades de crenças, muitas delas ligadas a tentativa de excluir os que pensam diferente.
Para melhor entender , tente pensar como seria sua vida “se” não acreditasse nas coisas que aprendeu a acreditar: O caos? A liberdade? Nunca saberemos.
Com base na psicologia analítica, Carl Jung nos traz o conceito do inconsciente coletivo para sinalizar o formato cíclico e contínuo da nossa existência psicológica.
Entender esse formato cíclico implica entender que retornaremos emocionalmente e psicologicamente ao mesmo lugar por várias vezes e enquanto precisarmos dessa experiência para uma evolução pessoal, ainda enquanto seres vivos. Portanto , não vale a pena negar e desviar dos conflitos que a vida nos impõe, pois isso implica em retornar invariavelmente para eles. Vivemos um momento pós-pandêmico que nos empurra para o nosso Self “, ou seja, a um estado latente de consciência e aprendizado que oportuniza a resiliência, mas também ao exercício de respeito a nós mesmos, nos libertando de crenças limitantes que geralmente nos obrigam a viver em função do outro sacrificando o que somos e o que desejamos ser.
Não podemos mudar o passado , mas podemos ressignificar algumas crenças com o propósito de salvar a nós mesmos e alcançarmos a felicidade real que é “ viver cada momento como único. Feliz 2024!
Catia Garcez é baiana, escritora, poetisa , Mestra em Crítica Cultural , Psicanalista e Arteterapeuta Junguiana. Seu último livro publicado foi Retalhos de Poesias Ocas.
Página:
https://caradaweb.com/noticia/opinio/2023/12/31/crenas-e-self/3634.html