Frente à pressão política e comercial brasileira, o Grupo Carrefour se retratou. Em carta assinada pelo CEO global, Alexandre Bompard, pediu desculpas e disse que continuará comprando carne brasileira. Mas não na França, onde quase 100% das proteínas vendidas são de origem local. No comunicado, Bompard reconheceu a “grande qualidade” das carnes dos frigoríficos brasileiros. Na semana passada, no contexto das negociações do acordo Mercosul-União Europeia, ao qual os produtores rurais franceses se opõem, publicou um texto afirmando que a rede deixaria de comprar carne do Mercosul e que os produtos do bloco não atendem às exigências do país europeu. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, publicou uma carta direcionada às entidades do agro, dizendo esperar que “a situação volte à normalidade”.

Após a retratação, os principais frigoríficos brasileiros decidiram suspender o boicote ao Carrefour no Brasil. Os frigoríficos interpretaram a correspondência de Bompard como um gesto satisfatório, que eliminou questionamentos em relação à reputação do produto brasileiro.

Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o Congresso seguirá avançando com o chamado PL da Reciprocidade, apesar da carta do Carrefour. E disse que a resposta do CEO foi “fraca”. “Não podemos minimizar o que aconteceu. É uma escalada de narrativas que não são verdadeiras sobre a produção brasileira.”

Em meio à polémica, o Parlamento francês aprovou, por 484 votos a 70, uma resolução do Executivo contra o acordo UE-Mercosul. Em mais de quatro horas de debate no Legislativo francês, deputados lançaram duros ataques ao Brasil e o “escândalo sanitário” na agricultura, classificando o acordo de “funesto”, “mortífero”, “tóxico e cancerígeno para os consumidores”. O texto não tem peso de uma lei, mas mostra o tamanho do obstáculo que os dois blocos terão de superar para que o acordo vigore. Os negociadores estão reunidos em Brasília até sexta-feira.