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Conflito no sudoeste baiano: Derradeiras informações

Crime aconteceu após 200 fazendeiros se mobilizarem no WhatsApp, diz ministério

O Ministério dos Povos Indígenas informou que cerca de 200 fazendeiros da região de Potiraguá, no sul da Bahia, se mobilizaram por mensagens no WhatsApp para invadir a Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, ocupada pelo povo Pataxó Hã Hã Hãe. Os ruralistas e comerciantes locais se juntaram para recuperar por meios próprios, sem decisão judicial, a posse da Fazenda Inhuma, no último sábado. A invasão armada deixou o cacique Nailton Muniz ferido e matou sua irmã Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó.

Em nota divulgada nas redes sociais, os Pataxó afirmaram que fazendeiros do grupo autointitulado “Invasão Zero”, com ajuda da polícia, cercaram a área com dezenas de caminhonetes e realizaram os disparos. O ataque aconteceu em resposta a uma ação dos indígenas que reivindicam a área cuja posse, segundo os Pataxó, já foi garantida pela Justiça, mas ainda não teve iniciado o procedimento demarcatório pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

O GLOBO obteve acesso a um dos posts encaminhados via WhatsApp pelo grupo de fazendeiros. Nele, o Movimento Invasão Zero convocou a reintegração para a manhã de domingo, com encontro na ponte do Rio Pardo. "Na Bahia, invasão de propriedade não se cria", escreveram os ruralistas.

 

Segundo a ministra Sonia Guajajara, entre os feridos também estão uma mulher que teve o braço quebrado e outros indígenas que foram hospitalizados, mas não correm risco de morte.

— É inaceitável o ataque contra o povo Pataxó Hã Hã Hãe que aconteceu neste domingo, na Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, no sul da Bahia (...) A área é reivindicada pelos Pataxó Hã Hã Hãe como de ocupação tradicional, e foi ocupada pelos indígenas no último sábado. Os fazendeiros armados cercaram a área com dezenas de caminhonetes e atacaram os indígenas — escreveu a ministra no "X", antigo Twitter.

Dois fazendeiros presos

Dois ruralistas foram detidos, incluindo o autor dos disparos que vitimaram Nega Pataxó, além de um indígena que portava uma arma artesanal. Segundo a Polícia Militar, um fazendeiro foi ferido com uma flechada no braço, mas está estável. O cacique Nailton Muniz foi atingido no rim e passou por cirurgia no Hospital Cristo Redentor, em Itapetinga. Seu estado de saúde não foi divulgado.

Uma comitiva do MPI, liderada pela ministra Sonia Guajajara, embarca para a região nesta segunda-feira (22). Em nota, o ministério informou que "através do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas, acompanha o caso desde que recebeu as primeiras informações e está fazendo interlocuções com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, incluindo diretamente a Polícia Federal, com o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e a Secretaria de Segurança da Bahia".

 

29 mortos em uma década

De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), esta é a segunda morte de lideranças Pataxó Hã hã hãe nos últimos 30 dias. Às vésperas do Natal, ainda em 2023, o Cacique Lucas Pataxó Hã hã hãe também foi assassinado. Os autores ainda não foram encontrados e responsabilizados 

Ao longo dos dois últimos anos, foram assassinados sete indígenas pataxó e ao longo uma década a Apib contabilizou 29 mortes. De acordo com a Articulação, os conflitos se devem especialmente "à morosidade na demarcação e homologação das terras indígenas".

 

Página:

https://caradaweb.com/noticia/bahia/2024/01/22/conflito-no-sudoeste-baiano-derradeiras-informaes/3691.html