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02 de Julho: Independência da Bahia

No dia 02 de julho se comemora a independência da BAhia

02 de julho é o 183.º dia do ano no calendário gregoriano (184.º em anos bissextos).  Hoje sábado, estamos na 26ª semana de 2022 , 3º milênio século XXI.Faltam 182 para acabar o ano.

Por haver 182 dias antes e 182 depois, este é o dia do meio do ano (182+1+182=365). Numerica e astrologicamente, é uma oposição da passagem do sol entre os dias 31 da noite de ano novo e o 1.º dia de ano novo.

Independência da Bahia

Um turista desavisado que desembarque em Salvador no dia 2 de julho pode pensar que fez uma viagem no tempo e chegou à cidade em pleno Carnaval, alguns meses antes de ter partido. Mas não, ele desembarcou na data certa. A festa é outra.

Embora praticamente desconhecida em outras regiões do país, é uma das maiores da Bahia. Nela, os baianos comemoram a expulsão das tropas portuguesas e a independência do Estado, ocorrida no mesmo dia de 1823, depois de um ano e cinco meses de uma guerra sangrenta, que envolveu de 10 a 15 mil soldados de cada lado e causou mais de duas mil mortes em combate.

A festa remete à chegada a Salvador, em 2 de julho de 1823, do exército — se é que a palavra se aplica a uma tropa maltrapilha — libertador brasileiro, que havia expulsado os portugueses. Os primeiros soldados começaram a chegar pela manhã. Não pareciam fazer parte de um exército vitorioso. Estavam descalços, quase nus, fracos e cansados.

Situação bem diferente da cena do quadro Entrada do Exército Libertador, do artista Presciliano Silva, pintado em 1930 e hoje exposto no Memorial da Câmara Municipal de Salvador. Ele mostra o comandante brasileiro, o então coronel Joaquim de Lima e Silva, tio de Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, montado num belíssimo cavalo alazão, seguido por um exército de homens muito contentes, alegres e saudáveis.

Quadro Entrada do Exército Libertador

CRÉDITO,PAULO REZZUTTI

 
Legenda da foto,

O quadro 'Entrada do Exército Libertador', de 1930, do artista Presciliano Silva, mostra uma cena diferente do que foi a realidade

De acordo com o escritor, historiador e autor de vários livros sobre a história da Bahia, Luiz Henrique Dias Tavares (1926-2020), em entrevista publicada pela revista Pesquisa Fapesp, em janeiro de 2006, a obra "não representa a verdade". Segundo Laurentino Gomes, em seu livro 1822, os moradores, que já sabiam que os portugueses haviam partido de madrugada, receberam os soldados com festa naquele dia. "E com festa ainda são lembrados todos os anos no dia 2 de julho."

Festa popular

Diferentemente das comemorações de 7 de setembro, que têm caráter mais militar em todo o Brasil — e na própria Bahia — os festejos de 2 julho têm maior participação popular, com desfiles pelas ruas e festas nas casas de Salvador, que duram o dia todo.

A data marca o fim de uma guerra que começou em 1822.

"A Guerra de Independência na Bahia começou dois meses e meio antes do Grito do Ipiranga, quando a câmara da cidade de Cachoeira aclamou D. Pedro como príncipe regente, desligando-se das Cortes de Lisboa", conta o historiador e escritor Paulo Rezzutti, autor do livro Independência, a história não contada: a construção do Brasil de 1500 a 1825.

Os portugueses não gostaram dessa decisão e, com o auxílio de um navio, atacaram pessoas que estavam saindo de uma missa em celebração, mas a população e os soldados reagiram, até que a embarcação se rendesse. 

Festa do 2 de julho

Fim do Podcas

 

Mas antes disso, houve vários eventos que levaram a esse combate. De acordo com o historiador Francisco Eduardo Torres Cancela, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), a guerra no Estado aconteceu num contexto geral de grandes transformações, a chamada era das revoluções.

"Em agosto de 1820, eclodiu na cidade do Porto uma revolução liberal que, entre outras coisas, defendia o retorno do rei d. João 6º para Portugal e a elaboração de uma constituição para o país", explica.

Segundo Cancela, a recepção dos ideais constitucionalistas na Bahia alimentou uma expectativa de mudança, ainda que sem uma perspectiva de ruptura imediata com o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, levando a uma rápida adesão da província às Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, que era uma espécie de parlamento na época.

"No entanto, as medidas delas referentes ao Brasil começaram a restringir a autonomia anteriormente conquistada, gerando tensões entre diferentes grupos e alterando o jogo de equilíbrio de poder", explica Cancela.

"Foi nessa conjuntura que as divergências sobre a autoridade política acabaram se transformando em conflito armado na Bahia."

Do ponto de vista factual, os antecedentes da guerra começaram em 10 de fevereiro de 1821, quando houve um levante contra o governador local, que levou à criação de uma junta de governo provisória.

"Por meio de decretos, com o intuito de desarticular qualquer iniciativa de implantação de um poder executivo no Brasil, em setembro de 1821, o governo português alterou o comando militar do Brasil subordinando-o a Lisboa", conta o historiador Walter Silva, diretor do Centro de Memória da Bahia (CMB), unidade gerida pela Fundação Pedro Calmon (FPC) da Secretaria de Cultura da Bahia. "Além disso, determinaram o retorno do príncipe d. Pedro para Portugal."

Festa da independencia na Bahia

 

Segundo Rezzutti, a junta provisória, que obedecia diretamente a Lisboa, e não ao príncipe regente no Rio de Janeiro, passou a ter brasileiros em altos postos, entre os quais o militar Manuel Pedro de Freitas Guimarães, que assumiu o comando de armas da província.

As Cortes Constitucionais de Lisboa não gostaram da situação. Por isso, determinaram eleições para uma nova junta de governo em janeiro de 1822, que tomou posse em 2 de fevereiro e parecia mais propensa a aceitar a liderança de d. Pedro, em vez da de Lisboa.

Essa junta confirmou Guimarães como comandante de armas, no entanto, o que gerou conflito com os militares portugueses, especialmente a partir de 11 de fevereiro, quando chegou de Portugal a nomeação, por meio de um decreto de 9 de dezembro de 1821, do militar português Inácio Luís Madeira de Melo para o posto.

E foi aí que a guerra começou de fato. Veterano das guerras de Portugal contra Napoleão Bonaparte, semianalfabeto e autoritário, o general Madeira de Melo tentou subjugar a Bahia pelas armas. Como não poderia deixar de acontecer naquele contexto, houve reação. No dia 19 de fevereiro daquele ano, logo de manhã, militares brasileiros se rebelaram contra a decisão das Cortes, no forte de São Pedro, onde ainda hoje funciona uma unidade militar, e nos quartéis da Palma e da Mouraria.

Festa do 2 de julho

 

Madeira de Melo exigiu a rendição dos rebelados, mas eles não o atenderam. Então ele mandou bombardear o forte e os quartéis. Sem condições de resistir, no dia seguinte os brasileiros abandonaram as instalações e foram para a cidade. De acordo com o historiador Johny Santana de Araújo, a partir desse dia, tropas portuguesa e forças baianas passaram a lutar abertamente nas ruas de Salvador.

"Foi ficando cada vez mais evidente que havia dois partidos com interesses antagônicos, um português e um brasileiro, o que acabou criando uma tensão cada vez maior e levando a província a uma guerra civil", diz.

Saques e tumultos

Os combates duraram quatro dias. De acordo com Gomes, em seu livro 1822, saques, tumultos e quebra-quebras tomaram conta da cidade, nos quais de 200 a 300 pessoas foram mortas. Entre elas, estava a primeira mártir da guerra, Joana Angélica de Jesus, superiora do Convento da Lapa, em Salvador. Ela foi assassinada com por soldados portugueses, que queriam invadir o local em busca de munição e dos nativistas contrários ao general Madeira de Melo.

Soror Angélica tentou impedir que os soldados entrassem no claustro, que era vedado para os homens, e acabou sendo morta com golpes de baioneta. O capelão Daniel Nunes da Silva também foi ferido no ataque, mas não morreu.

Festa do 2 de julho

 

Depois desses confrontos, os principais oponentes de Madeira de Melo, compostos por grandes comerciantes e senhores de terra brasileiros, se refugiaram no Recôncavo, passando a organizar dali a resistência ao governo português. Entre as principais vilas da região estavam Santo Amaro da Purificação — município famoso hoje por ser a terra de Dona Canô, a mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia —, Cachoeira, São Francisco do Conde e Maragogipe.

Mas não foram só eles que deixaram Salvador. Segundo Gomes, "assustados com a violência, centenas de civis seguiram o mesmo caminho, evacuando a cidade com suas famílias e os pertences que conseguiram carregar. Em poucos dias, as vilas e fazendas do Recôncavo se transformaram em imensos campos de refugiados brasileiros. O restante da Bahia aderiu em peso à Independência do Brasil formando um cinturão de isolamento aos portugueses encastelados em Salvador".

Festa do 2 de julho

 

Segundo Araújo, entre maio e junho de 1822, nas câmaras municipais da região do Recôncavo, começaram a se fazer conclamações a d. Pedro para se tornar defensor perpétuo do Brasil, título oferecido em 13 de maio ao príncipe pelo Senado da Câmara do Rio de Janeiro. "Essas ações eram abertamente contrárias às vontades das Cortes de Lisboa, de levar o príncipe regente de volta a Portugal, e acabaram provocando a reação das tropas portuguesas estacionadas em Salvador", acrescenta.

Rezzutti lembra que, na época, as vilas do Recôncavo, que sustentavam a economia da Bahia, cada vez mais se voltavam para o Rio de Janeiro. Os baianos passaram a considerar a ideia de um Brasil unido ao redor do príncipe regente, como a única maneira de evitar a recolonização do país. "Em 25 de junho, a Câmara da Vila de Cachoeira, com a presença de oficiais brasileiros, do clero e do povo, aclamou D. Pedro como regente do Reino do Brasil, e os cidadãos decidiram não obedecer mais a Madeira de Melo", conta.

Eles pagaram um preço por isso, no entanto. Os portugueses, a bordo de uma canhoneira ancorado do Rio Paraguaçu, que banha a cidade, abriram fogo contra a vila em festa. "Após a aclamação, seguiu-se um cortejo para uma missa, que foi atacado a partir do rio, assim como a vizinha cidade de São Félix", conta Araújo. "Esse ataque marca oficialmente o início da Guerra da Independência na Bahia."

Mas os brasileiros de Cachoeira reagiram e reverteram a situação. Gomes relata que no amanhecer do dia seguinte, uma improvisada flotilha de canoas e pequenos barcos de pesca cercou a canhoneira de todos os lados.

"Na falta de equipamentos mais modernos, os brasileiros usavam espingardas de caça e um canhão antiquíssimo, exibido até então como relíquia na praça da cidade. Sem comida e munição, na tarde do dia 28 o comandante português e seus 26 marinheiros finalmente se renderam. Foi a mais singela, e talvez a mais heroica, de todas as batalhas navais da independência brasileira."

 

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