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Burguesia: Entenda a música de Cazuza

Publicado dia 05/01/2022 às 13h19min | Atualizado dia 05/01/2022 às 13h28min
Em Burguesia, ele aborda a sua insatisfação em relação à classe dominante do país, compondo um retrato de como ele enxergava a sociedade com maior poder aquisitivo naquele período.

A música Burguesia, do Cazuza, foi lançada em 1989, no álbum homônimo, o último trabalho produzido antes da morte do cantor, que faleceu em 7 de julho de 1990. Cazuza foi um grande questionador e podemos observar na análise crítica que fazia do sistema político e da sociedade em suas composições.

Cazuza
Créditos: Divulgação

Em Burguesia, ele aborda a sua insatisfação em relação à classe dominante do país, compondo um retrato de como ele enxergava a sociedade com maior poder aquisitivo naquele período.

Porém, mesmo passados mais de 30 anos, a letra de Burguesia permanece atual, pois nota-se que o comportamento dos burgueses permanece o mesmo, tornando-a música atemporal. 

Vamos juntos fazer uma análise da música Burguesia, do Cazuza? Bora lá! 

Análise: Burguesia, de Cazuza

Em 1989, o cantor estava bastante debilitado por conta da AIDS, doença que ele descobriu em 1987, quando recebeu o diagnóstico. Tanto que, na análise da música Burguesia, é possível notar a voz de Cazuza enfraquecida, embora a letra por si só tenha um peso muito mais representativo. 

Composta por Cazuza em parceria com George Israel e Ezequiel Neves, Burguesia abre o disco homônimo, o último lançado pelo cantor. 

Nela, o cantor carioca destrincha a sua antipatia e até mesmo asco pela elite, classe social abastada, detentora dos meios de produção, responsável maior pela concentração de riquezas. 

Apesar do significado da palavra estar atrelado ao poder de bens e dinheiro, podemos compreender que na música, assim como em um contexto geral, a burguesia criticada pelo cantor pode ser mais ampla.

Envolve comportamentos mesquinhos e principalmente o desejo de se sobressair aos menos favorecidos. Vamos conferir a seguir a análise dos versos da música Burguesia

Burguesia: análise dos versos

Agora, vamos analisar os versos da música Burguesia:

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

Cazuza abre a música pelo refrão, dizendo exatamente o que pensa da burguesia que, para ele, cheira mal e torna impossível que a arte seja manifestada nesse meio.  

A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras

Ao longo da canção, ele retrata algumas das características que compõem as pessoas que fazem parte das classes sociais mais abastadas. Segundo ele, trata-se de um povo apático, arrogante, escalafobético… 

Ele menciona também alguns dos desejos que a burguesia tem, como ser sócia do Country, certamente uma referência a um dos clubes mais seletos do país, localizado em Ipanema. Fundado em 1916, ficou conhecido por ser o ponto de encontro de pessoas extremamente ricas. 

Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal

Ao mesmo tempo em que ridiculariza a burguesia, Cazuza faz uma autocrítica ao se reconhecer e não negar suas próprias origens de família abastada.

Ele era filho de um empresário e produtor musical muito respeitado na indústria musical. Mas, mesmo tendo dinheiro, não se considerava mesquinho. 

A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos

Nesta estrofe, ele declara o seu descontentamento, dizendo que os ricos estavam descaracterizando a Barra da Tijuca, bairro nobre carioca. 

Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses

Sendo uma pessoa de esquerda e socialista, como revelou durante entrevistas, Cazuza critica o comportamento dos ricos em exigir que as empregadas usem uniforme.

Para ele, os burgueses estão o tempo todo negando suas origens, se comportando como se fossem ingleses. 

A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra

São retratados na letra como frios, por não se importarem com a dor do outro. Só estão preocupados consigo mesmos. Costumam ser de direita e ter um comportamento mais agressivo, como sugere esse verso ao mencionar a palavra guerra. 

As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua

Aqui, é como se ele estivesse fazendo um convite ao povo para acordar que estão sendo roubados. O povo está com medo, mas deveria ir para a rua. 

Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo

A letra vai ganhando um tom mais duro ao sugerir que a solução seria acabar com a classe dominante. 

Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal

Toda a música tem um tom de revolta, mas no último verso Cazuza se torna ainda mais crítico, demonstra toda revolta com os burgueses, embora reconheça que alguns deles até são pessoas com boas intenções. 

O burguês bom se comporta de uma maneira mais solidária, trabalha duro mesmo sendo rico e procura ajudar em causas sociais. 

De uma maneira geral, Cazuza detona a classe burguesa, ao mesmo tempo que tem um olhar esperançoso a respeito de alguns que são mais conscientes e permitem que o lado humano e solidário esteja acima do dinheiro.

O álbum Burguesia

Durante a gravação do álbum BurguesiaCazuza estava bastante debilitado e se encontrava em cadeira de rodas. Mesmo assim, se esforçou para criar um disco com 20 canções divididas em um lado mais rock and roll e outro com pegada mais MPB.

Capa do álbum Burguesia, do Cazuza
Capa do álbum Burguesia / Créditos: Divulgação

Burguesia, que completou 30 anos em 2019, se tornou o quinto e último álbum da discografia de Cazuza. Nele, Cazuza interpretou ainda Quase um Segundo, dos Paralamas do Sucesso e Esse Cara, de Caetano Veloso. 

O disco duplo vendeu 250 mil cópias e o cantor recebeu o Prêmio Sharp, postumamente, com a música Cobaias de Deus

Confira a música e o vídeo:

https://youtu.be/vDOhsqvXvFM

 

Fonte: https://m.letras.mus.br/blog

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